domingo, 4 de outubro de 2009

Escritora Antonieta Merces lançará Saragaço dia 17


Falar da Professora Antonieta, uma gancheira de nascimento e de alma envolvida a cada minuto com a cultura popular de sua terra, é deveras gratificante. Guerreira em tudo que se propõe a realizar. Humilde na sua trajetória, sempre tem algo diferente para nos contar. Surpreende sempre!

Saragaço é mais uma de suas estripulias no seu corre - corre pelas andanças na literatura. Neste alvoroço causado por sua inquietude, apresenta aos leitores e a todos aqueles que descendem da “cultura” açoriana litorânea catarinense um romance cheio de nuances e que narra o jeito sutil, engraçado e divertido das pessoas que habitam o “seu” lugar – Governador Celso Ramos, antigo Ganchos – das suas histórias vividas, reinventadas, acrescidas e criadas, sempre com o olhar de quem está comprometida com as raízes e com o gritar diário de sua alma.

Neste livro, Antonieta, mulher de sorriso largo e alvoroçada por natureza na sua forma de ser, se revela uma excelente contadora de história romanceada, narrando numa forma bastante peculiar: coisas do seu cotidiano envolvidas por seu imaginário. Ler Saragaço é lembrar de um termo ainda bastante utilizado no litoral catarinense por sua particularidade.

SEGUEM TRECHOS DA OBRA:


(um trecho pág 23.... expressão usada há 40 anos/personagem/jovem tio Nico)

[...]— Que nada, mamãe! A gente só acha graça do seu jeito de ser. E, por falar em jeito de ser, no barco, essa mulher não parou um instante. Remexia o tempo inteiro. Parecia siri na lata. Se, pra lá, já foi um desassossego, pra cá nem se fala! É que ela trouxe uma carrada de coisa pra dar de presente que eu tive que comprar mais uma mala de mão para poder ajeitar a imensidade de pacote. Então, fuçava nos pacotes das malas, o tempo inteiro. Isso, que ela fez a Márcia escrever nos pacotes o nome a quem se destinava o dito presente! Mesmo assim, mamãe não me deixou dormir nem um soninho, de tanto que remexia. Não adiantava eu falar: “Vai dormir, mulher!” Ela sempre inventava uma desculpa: “Só tô bispando pra vê se tá tudo certinho. Tô contando pra vê se eu não dexê nada lá por riba da cama.” E eu: “Ah, mamãe! Pára né! A Márcia conferiu tudo, mais de mil vezes.” Olha, vou contar pra vocês uma coisa, não adiantava, eu falar. Era o mesmo que chover no molhado. Tudo o que eu dizia, entrava por um ouvido e saía pelo outro. De dia eu já nem ligava. Mas, de noite? Olha, era de matar! Cansado do leme, depois de largar o quarto nas mãos de um tripulante, o que eu mais queria, era sossego pra dormir. E, a mamãe deixava?[...]

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pág53: ( expressão que permanece nos dias atuais, aqui demonstrada na fala da personagem Piedade, na volta da prima após 40 anos de ausência da terra natal. Um romance ficcional/regionalista)


[..]Quero lembrar é da vez que o Zequinha, aquele bicho aparencero, tirou o retrato do baú só pra atentá a vovó e depois botou no mesmo lugá. O que ele fez? Roubou a chave do bolso da vovó. A vovó dormindo. Aquilo é que era mulhé de sono leve! Nem sentiu! O Zequinha tirou a chave divagarinho.

— Digavazinho, como dizia vovó. — falei e Piedade retrucou:

— Palhaça, né! Depois, a escarnenta, sou eu. Papagaio come milho, periquito leva a fama.

— Anda Piedade. Anda de uma vez com essa história. Aí o Zequinha pegou a chave, abriu o baú...

— Quem é que tá contando? É eu ou és tu?

— Tu. Mas, estás cheia de nove horas. Não precisa tanto rodeio.

— Tá injuada. O Zequinha tirou o retrato pra fazê farra. Quando deu conta de que o retrato tinha sumido, a vovó ficou em pandareco! Pensa que ela parô de revirá a casa? A mulhé bateu cabeça atrás do retrato. Revira daqui, revira dali... Parecia siri na lata. A gente dizia: “Não tá mulher!” Mas ela não se conformava. Olha, aquela vovó fazia marafunda causa desse retrato. Rapariga linda! O Zequinha não podia olhá! Aquele Zequinha era um bicho um muncado careteiro! Aquilo é que era malino. Tão piqueno, tão iscumunguento! Ô trempe à toa. Foi ele quem robô o retrato! [...]

2 comentários:

  1. Um romance com muita emoção e riso.
    vale a pena conferir

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  2. E SARAGAÇO, junto à norma culta, o leitor vai encontrar “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica."O.ANDRADE.
    Oswald revoluciona os conceitos tradicionais ao introduzir, em sua poesia,a valorização da fala coloquial como coisa nossa.Sabemos que Todo falante nativo de uma lingua é um usuário competente dessa língua.

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