quarta-feira, 15 de julho de 2009

Matéria de Capa da 33ª do Jornal A Cidade - Governador Celso Ramos


Residentes de clínica de recuperação falam sobre a vida das drogas

Cerca de 15 residentes da Clínica de Recuperação Instituto Redenção, instalada no bairro de Areias do Meio há um ano, lutam incansavelmente contra o vício das drogas. Com o objetivo de mostrar para as pessoas o quanto é difícil se livrar desses hábitos, um instrutor e dois residentes comentam situações de suas vidas antes de buscarem ajuda.
Há 15 anos trabalhando em comunidades terapêuticas, Odair Ribeiro de Campos, de 53 anos, natural de Ijuí, Rio Grande do Sul, foi alcoólatra por 15 anos e hoje trabalha como voluntário no instituto. “Normalmente, os que decidem vir para cá ou qualquer outra clínica é porque está no fundo do poço. O tratamento dura de nove meses a um ano, vai depender da evolução. Antes dos seis meses as visitas são permitidas mensalmente, após este período, o residente pode ficar seis dias com a família para não perder os vínculos”, comenta.
Durante o tratamento todos participam da conservação e limpeza do lugar, preparam refeições, participam das palestras sobre religiosidade e assuntos como perspectivas de mudança, suas habilidades, inseguranças, medo da rejeição e outros temas que os ajudarão ao retorno à sociedade. “Todos devem ter esperança, mas a recuperação de todo adicto será por toda a vida. Estou há 15 anos sem beber, mas vivo em alerta. Fico feliz por mim e também porque as pessoas me respeitam e admiram”, conclui Campos.

Usuários em tratamento aconselham juventude
O cearense Pedro Alves Filho, de 34 anos, mora em Florianópolis, tem um filho de um ano e oito meses, e tenta se desintoxicar do consumo de bebidas alcoólicas e do uso de cocaína e do crack. Dependente há 14 anos, chegou a transformar a cocaína em crack para consumir. “Quando me vi no fundo do poço decidi procurar ajuda. Estava perdendo a família, fiquei seis meses desempregado, as pessoas não confiavam mais em mim”, afirma Pedro que trabalhou como servente de pedreiro, serviços gerais e frentista. Há oito meses na clínica, Pedro concluirá os nove de tratamento antes de voltar para casa. “Em um mês estarei de volta à sociedade. Para conseguir viver, terei que evitar pessoas, lugares e hábitos. Estou me preparando para me prevenir das recaídas. Já sai e os outros usuários sabem que estou fazendo tratamento e respeitam”, afirma. Pedro deixa uma mensagem para a juventude e seus respectivos pais: “Jamais experimentem por curiosidade. A sensação da droga nunca terá o mesmo efeito, e em busca da primeira sensação, a pessoa torna-se mais um dependente da droga, mais um escravo. Acreditem, é muito mais fácil lidar com os problemas de cara limpa do que com um copo de álcool na mão ou droga. Indico que os pais busquem conhecimentos e passem para os filhos uma outra forma de ver a vida. Que todos têm problemas e que podem ser resolvidos sem o uso de droga. O que preenchia meus vazios era a droga, mas nada resolveu. Fique doente fisicamente e mentalmente. Adquiri problemas com a família e com a sociedade. A droga destrói lares. Diga não as drogas.”, solicita Pedro.
Com apenas 28 anos, o metalúrgico Michel Silveira de Lima, natural de Viamão, Rio Grande do Sul, começou a beber e fumar maconha com 20 anos. Não demorou muito para consumir cocaína e crack, tornar-se um dependente químico e uma pessoa agressiva. “Quando usava perdia o controle, vendi tudo que tinha. Carro, oito cavalos, comecei a roubar a casa da minha família. Até que fui morar sozinho e mesmo assim não tive controle. Tomei a decisão de fazer o tratamento quando misturei tudo e quase tive uma overdose. Gastei mil reais em um dia. É a terceira vez que tento fazer o tratamento completo, mas dessa vez farei até o final. Quero dizer para as pessoas que não são usuárias, que não tenham a curiosidade de conhecer. A gente sempre pensa que não vai viciar, mas não é assim que acontece. A família não pode criar um mito sobre o assunto, deve conversar na amizade, sem represália e mostrar o quanto é ruim. Senão, o traficante vai mostrar como se fosse bom. Não esqueçam, não existe droga mais leve. Todas levam à depressão, à insanidade, à morte”.


Legenda: Michel, Odair e Pedro compartilham experiências

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